quinta-feira, 17 de maio de 2012

EXPECTATIVA EM CAETITÉ


EXPECTATIVA EM CAETITÉ
(ELOÍSA CECÍLIA)

e esse tempo fechado...
todo mundo na janela olhando as nuvens...
e esse ventinho que chega de leve...
a expectativa que aumenta no peito...
o cheiro de terra molhada que quer ser relembrado...
e a gostosura de sentir os primeiros pingos de chuva sobre a cabeça...
olhar para o asfalto e ver o cinza claro se tornar escuro por molhado...
sentir a enxurrada molhar os pés e a barra da calça...
torcer para as lagoas serem cheias...
Ouvir novamente o coaxar da Phyllomedusa escondida entre as folhagens...
tirar da tomada tudo por conta dos relâmpagos...
olhar da sacada da casa a chuva cair em contraste com a luz do poste...
sentir de novo os rios encherem...
e respirar fundo a alegria da sede saciada da terra seca...
o chão rachado umedecido...
matas marrons cobrir-se de um verde estonteante...
o cajueiro e o umbuzeiro que florescem depois da longa sequidão...
e os olhos brilhando refletindo na primeira gota que cai ao chão...
os ouvidos atormentados pelo choque das nuvens carregadas...
a descarga elétrica que clareia toda a escuridão como um flash da câmera de Deus...
que os astronautas no espaço curtam essa imagem...
com uma visão privilegiada das massas de ar e dinâmica do planeta azul...
que eu fico daqui esperando a primeira gota cair...
numa visão esperada ha muito tempo...
tão esperada pra ser vista quanto a terra aguarda ser molhada...
que o tempo não mude Deus bondoso, sacia a sede desse povo
Solta a vida que há na água
e que de fartura seja o nordeste contemplado...
e nesse fim de semana que meu pai diga quando em casa eu chegar...
"Lá na roça choveu muito, comprei milho pra gente plantar"
e nos próximos meses haverá pamonha e mingau, milho cozido e feijão verde farofado...
fim do ano umbu e seriguela
o pardal escondido no ninho
e o cheiro da terra molhada se espalhando por todo lugar
Paciência paciência... deixa a nuvem movimentar...
ainda hoje
essa chuva há de chegar...

Um comentário:

  1. Nordestino, povo mais valente, corajoso que existe. Acredito que as adversidades com o tempo, a esperança da chegada da chuva, o fazem assim! Parabéns Eloísa pela linda descrição.

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