Um Desabafo diante de tudo? Talvez sim...
Primeiro de tudo convoco aos que leem a um curso de
leitura! Não que você esteja me lendo
mal, de forma nenhuma, mas ler por ler não é ler. No nosso país como um todo vivemos
um momento de calamidade na leitura e esse ranço tem acompanhado todo o sistema
educacional. Lê-se bem o be-a-bá, se junta bem cada sílaba de uma palavra,
soletra-se bem cada letra do alfabeto, mas tudo isso junto forma um texto,
contexto que muitos hoje não são capazes de entender. É o que chamamos de
analfabetismo funcional, lê-se bem, mas entende-se mal.
Então para começar, entendo a necessidade do retorno à
literatura, não essa literatura macabra que aliena, aborta e mata o pensamento,
mas a literatura clássica, pesada, carregada de entendimento, que acrescenta!
Os jovens hoje leem mais as redes sociais do que qualquer
outra coisa. Se na escola sugere-se a leitura de um livro estilo Lispector,
Machado de Assis, José de Alencar, pega-se um resumo na internet e acredita-se
que leu uma grande obra. É por isso que quando se escreve nas redes sociais uma
frase como a de Nietzsche "De uma vez por todas, muitas coisas eu não
quero saber. A sabedoria traça limites também para o conhecimento” interpreta-se
que o conhecimento não precisa ser buscado e na verdade o autor é claro em
dizer que quem impõe o limite ao conhecimento é a sabedoria e, para o bom
entendedor, sabedoria significa: grande fundo de conhecimentos, saber,
qualidade de sabedor, prudência, ciência e razão. Para entender essa frase
poderíamos esmiuçar cada uma dessas palavras. O que nos falta é na verdade
discernimento.
Porque essa introdução toda? Porque você é leitor! Vinte e
quatro horas por dia você lê e, no mínimo, exige-se de quem lê, o entendimento
do que leu. Portanto esclareço que esse é um texto livre, de protesto talvez,
um texto que se baseia em princípios, um texto que exige de quem o lê, no mínimo,
um aguçado leque de interpretações que estejam coerentes com o que está sendo dito.
Eu fico a imaginar o quanto a literatura e a filosofia é
importante na vida de um livre pensador. E digo, livre pensador, de forma
destacada, porque tem muito pensador alienado que se diz livre. A literatura
ensina a interpretar e a filosofia a pensar.
A democracia nasce na Grécia, considerada o berço da sabedoria.
É de lá também, que se ouve falar na polis, em cidadania, em cidadão. Mas vamos
abrir ainda mais esse leque? Não existe
democracia, nem tão pouco cidadania, menos ainda cidadão que constitua uma
polis se não houver sabedoria. Existe outra palavrinha grega também muito
importante: ÉTHOS que é a nossa velha amiga aportuguesada ÉTICA. Sinceramente,
era exatamente nesse ponto que pretendia chegar. Ética nada mais é do que uma
parte da filosofia que estuda os fundamentos da moral, além de ser um conjunto
de regras de conduta.
Entristece-me um povo que se diz democrático, com liberdade
de expressão, no qual não há censura (Graças a Deus), não ser ético. É
incompreensível tal absurdo, e mais incompreensível ainda, quando esse mesmo
povo se diz pensante! Para ser democrático, cidadão, livre pensante, não
alienado, ter liberdade de expressão em princípio deve ser um povo ético.
Já se dizia um ditado que meu direito se acaba onde começa o
seu. Já dizia outro ditado, que gostar talvez até não goste, mas respeito é um
direito de todos. Sabiamente Cortella em uma entrevista ao apresentador Jô
Soares sintetiza tudo o que tenho dito aqui da seguinte forma: “Ética é um
conjunto de valores e princípios que nós usamos para decidir as três grandes
questões da vida: Quero? Devo? Posso?”.
Analise aí, querido leitor, aplique suas atitudes dentro
dessas três perguntas fundamentais: Quero? Devo? Posso? Agora, dentro dessas
perguntas estendam-se os seguintes princípios: Seu direito acaba onde começa o
meu! O respeito é o direito de todo cidadão, seja ele o maior poço de doçura
até o sanguinário assassino (e respeito não quer dizer não revoltar e desejar
justiça, que fique claro. Mas isso é tão nítido que até o serial killer tem
direito de defesa no processo judicial). Mas ainda não acabou, estenda ainda
nessas três perguntas a liberdade! É... minha liberdade e sua liberdade de
escolha. Já dizia o filósofo iluminista Voltaire: “Posso não concordar com
nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de
você dizê-las”.
Diante de tudo isso, entenda que “existem coisas que quero,
mas não devo. Tem coisas que eu devo, mas não posso. Tem coisas que eu posso,
mas não quero”. Resume-se aqui toda nossa ladainha. A paz de espirito é
alcançada quando o que você quer é o que você pode e é o que você deve.
Que rodeio todo é esse que tem sido feito para se chegar até
aqui? Poderia explicar? Sim... Claro... explico. Primeiro com uma afirmação:
TUDO PASSA! E isso é Bíblico. É também filosófico, Heráclito diz que “um homem
não se banha duas vezes no mesmo rio” isso porque nem o rio e nem o homem são
os mesmos. Chegará o dia em que tudo passará.
Segunda afirmação é que quando tudo passar, nem o rio será o
mesmo, nem o homem, isto é, tudo estará mudado. Porque as palavras marcam e as
atitudes transformam. O Homem será marcado e suas atitudes o transformarão.
Uma das grandes máximas de Nietzsche é “torna-te aquilo que
és”, é um apelo ao momento maior de ética humana. Muitos tornam aquilo que és
quando ganha poder, ou quando se torna inimigo, ou quando se torna amigo.
Outra máxima ainda: “Quem luta com monstros deve velar por
que, ao fazê-lo, não se transforme também em monstro. E se tu olhares, durante
muito tempo, para um abismo, o abismo também olha para dentro de ti.”. Olha a
enormidade do perigo que se faz lutar com monstros, cuidado para não se
tornarem monstros também.
Então olhem só: Vamos
acabar com todo esse lenga lenga e vamos a moral da história. Quando tudo isso
passar ficarão algumas perguntas que eu as faço desde já:
1) O que restará das palavras e atitudes que não mais
retornam e que violaram os direitos, a ética, a moral de um contexto
conquistado historicamente por gerações e mais gerações?
2) O que restará daqueles que finalmente “tornaram aquilo
que és”?
3) Para onde irá os direitos de cidadão conquistados na
ágora grega?
4) E a ética?
5) E os direitos garantidos por lei na Constituição Federal
explicito em seu art 5 e respectivos incisos, não são mais obrigatórios?
6) O que ficará de tudo o que se vê, se ouve e se fala
depois que tudo passar?
7) Alcançará todos uma paz de espírito ao ponto de dizer
fiz, falei, agi, porque quis, porque posso, porque devo?
8) E de tudo o que ficar, serão restos ou serão éticos?
Posso ir mais adiante e aprofundar tais questionamentos para
um campo mais sentimental:
9) E depois que tudo passar, depois que tudo foi dito,
depois que foi ouvido, diante de tanta palhaçada, em nome de um fanatismo
grotesco, quem ficará?
Já dizia mais uma vez o filósofo iluminista “fanatismos
levam a histerias coletivas que, por sua vez, geralmente têm consequências
desastrosas”. Em nome dele (fanatismo) mancha-se amores, exemplos, vidas,
amizades, destroem-se laços, ferem-se a moral, a ética, a história, o contexto,
a época, os conceitos de um povo, enjaulam-se pensamentos, corta-se a tênue
linha que separa ditadura e democracia. É por isso que deixo aqui o apelo Nietzschiano
“precisa-se de educadores que sejam eles próprios educados, espíritos superiores,
provados a cada momento, provados pela palavra e pelo silêncio, de culturas
maduras, tornadas doces (...) Faltam os educadores, fora as mais raras exceções,
a primeira condição para a educação” e entenda-se aqui educador como sendo não
só o professor, mas todo membro social que tem por obrigação educar.
Fecho minhas palavras para os bons leitores que suportaram o
meu rodeio e até aqui chegaram, a resposta para todas as perguntas que ficaram
feitas anteriormente, ou ainda, para aquelas que estão aí fervilhando em seu
íntimo (porque essa é minha função de escritora, incomodar, colocar uma
borboleta batendo asas em seu estômago, fervilhar seu pensamento, estimular seu
senso crítico, propor perguntas mesmo que não lhe dê as respostas): Quando tudo
isso passar, nem o rio nem o homem serão os mesmos! Feliz será aquele que fez,
disse e agiu porque queria, porque podia e porque devia, resumindo: Feliz será
aquele que preservou seus princípios morais, religiosos, políticos, sociais, culturais
e éticos!