domingo, 12 de dezembro de 2010

Um Café "TECNOTEMPO" com Roberta Sá



Belo e Estranho Dia de Amanhã 

Notícias perderão todo controle dos fatos
Celebridades cairão no anonimato
Palavras deformadas
Fotos desfocadas
Vão atravessar o Atlântico
Jornais sairão em branco
E as telas planas de plasma vão se dissolver
O argumento ficou sem assunto

Vai ter mais tempo pra gente ficar junto
Vai ter mais tempo pra enlouquecer com você
Vai ter mais tempo pra gente ficar junto
Vai ter mais tempo pra enlouquecer

Os políticos amanhecerão sem voz
O outdoor com as letras trocadas
Dentro do Banco Central
O pessoal vai esquecer como é que assina
A própria assinatura
E os taxistas já não sabem que rua pegar
Que belo estranho dia pra se ter alegria

Eu respondo e pergunto

É só o tempo pra gente ficar junto
É só o tempo de eu enloquecer com você
É só o tempo pra gente ficar junto
É só o tempo de eu enlouquecer

Alarmes já pararam de apitar
O telefone celular descarregou
O aeroporto tá sem teto
E a moça da TV prevê
Silêncios e nuvens
A firma que eu trabalho faliu
E o governo decretou feriado amanhã no Brasil

Será que é pedir muito?

É só um jeito da gente ficar junto
É só um jeito de enlouquecer com você
É só um jeito da gente ficar junto
É só um jeito de enlouquecer com você




 
Mais um cafezinho de reflexão... Hoje eu convido a bela e talentosa cantora ROBERTA SÁ...
O que é o tempo nas concepções histórico-filosóficas aplicadas atualmente no nosso estranho e louco mundo?

Talvez algo abstrato para muitos, mas tão concreto ao se perceber nas marcas deixadas nos rostos daqueles que sofrem sua ação, como diz o poema de Viviane mosé:
o tempo andou riscando meu rosto
com uma navalha fina
sem raiva nem rancor
o tempo riscou meu rosto
com calma
                
A verdade é que hoje em dia ninguém tem tempo. A preocupação de se preparar para um futuro, a faculdade que lhe aperta, o currículo que nunca é o melhor, a tecnologia que nos trouxe os celulares e agora a qualquer hora do dia e em qualquer lugar (mesmo naqueles em que queremos nos esconder) alguém consegue nos achar para conversar.
O interessante é que anos atrás não tínhamos celular e éramos felizes... Hoje se esquecemos do nosso em casa voltamos de qualquer distância, porque parece nos faltar uma perna e sem uma perna não conseguimos seguir.
Temos uma televisão de plasma (confesso que até hoje não sei o que é plasma) só sei que a imagem é perfeita. DVD? Passado... Agora é Blu-ray, para você se sentir num cinema, isso porque no cinema a imagem sai da tela e entramos nos filmes.
Eu amo a tecnologia, é verdade. Controle remoto...  a invenção! E eu defendo que a preguiça favorece o progresso tecnológico. É claro que com todo esse avanço, somos bombardeados todos os dias nos outdoors, na televisão, nas revistas de reportagens (Catálogos de vendas), por todos os lados somos lembrados da correria que tornou nossa vida.
Na musica “Belo e estranho dia de amanhã”, a interprete traz um cenário de caos mundial: As Notícias perderão o controle dos fatos, os jornais estarão em branco, as telas planas de plasma irão se dissolver, os políticos amanhecerão sem voz, o outdoor com as letras trocadas, dentro do Banco Central vão esquecer como é que assina, o telefone celular descarregou, o aeroporto tá sem teto e a firma que trabalho faliu... CAOS. O mundo é movido por uma rede. A tecnologia move o mundo. Eu fico pensando o que aconteceria se ocorresse o mesmo que no filme “A rede”, quando um vírus infecta os computadores dos principais órgãos e endoida todo um sistema criado para não falhar. Quando olharmos e ate os semáforos nas ruas não saberem que cor me faz seguir. Quando abrirmos a janela pela manhã e não termos a certeza meteorológica se vai ou não chover, se um terremoto vai ou não afetar uma determinada área. Quando sentarmos em nossas mesas, ligarmos o computador e descobrirmos que a internet sumiu e com ela se foi todas as outras partes do mundo. Quando nos caixas eletrônicos as senhas se misturarem e a economia desmoronar. Quando as pessoas perceberem que deverão aprender a recomeçar.
Recomeçar significa: ter mais tempo... “Que belo e estranho dia para se ter alegria” é o dia de maior caos da humanidade, mas é também o único dia que vamos ter tempo de estarmos juntos, isso porque as televisões não irão nos prender a atenção, será feriado e poderemos ir ao zoológico com nossos filhos, será o dia em que teremos tempo de olhar nos olhos da pessoa que amamos e ter tempo de conhecê-la, será o dia em que a correria que reina em nossa vida será deposta do seu trono absoluto para a coroação do “tempo”, da amizade, justiça e prazer. Será o dia em que descobriremos o quão fútil fomos e o quanto perdemos ao priorizar tantas outras coisas e não a vida.
Será o dia em que todos verão a luz do sol e entenderão que o dia sempre teve 24 horas e que em nenhum momento ele passou mais rápido como a sensação que tínhamos quando colocamos num dia, mais atividades do que suportamos. E entenderemos que 24 horas são suficientes para termos tempo e que o sol nasce todos os dias com uma luz exuberante, mas nós nunca vimos.
Será o dia, meu querido, em que olharei nos seus olhos e lhe direi que te amo, porque eu terei tempo de lhe ver e teremos mais tempo ainda de reunirmos a família e irmos para antigas atividades que ninguém se lembra mais, como ensinar o filhão a pescar ou a filha a montar um piquenique na grama de algum lugar onde ainda se existam árvores e principalmente, estar juntos sem que o filho esteja grudado os olhos no computador, a filha com os pensamentos no que pode ocorrer na novela das oito, o marido doido pra saber em quantas está a economia, a indústria, a bolsa de valores e nós nos celulares tentando ser mãe, profissional, donas-de-casa e esposas. Nunca estivemos tão juntos e ao mesmo tempo tão distantes uns dos outros.
Mas um dia nós entenderemos que a vida é breve e que estar ao lado de quem amamos é melhor do que estar preso no trânsito, entenderemos que a natureza é pra ser contemplada nos seus mínimos detalhes e não apenas no seu aspecto econômico, entenderemos que sustentabilidade, compromisso e principalmente, honestidade, começa em nós e não nos governos. E um dia, finalmente e esperançosamente acredito, entenderemos que precisamos de mais tempo para estarmos JUNTOS...

(Eloísa Cecilia)

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