Os olhos marejados de lágrimas, o coração apertado dentro do peito, um olhar triste de despedida. A “tia gorda” como ela se chamava ao direcionar palavras e conselhos aos sobrinhos: “diga que foi a tia gorda que mandou dizer”, se despedia dos familiares e amigos para um novo encontro, em outra estação.
As irmãs que unidas permaneciam durante todo o tempo, mantinham essa relação de amizade, bondade, responsabilidade e coragem como um grande exemplo para as gerações posteriores. Suas casas, cheias de filhos de outros que elas acolhiam como seus. Casas cheias de amigos que por um instante passavam para ouvir seu sorriso, alimentar-se da comida feita nos tachos de ferro sobre o fogão à lenha.
Esposas dedicadas, mulheres guerreiras e sem medo de viver que enfrentavam a dura vida e ensinavam aos que estavam ao redor que a coragem, bondade e respeito devem existir independentemente das circunstancias.
A primeira a se despedir, tão miúda em estatura e tão imensa em coração, deixou mais que a saudade aos que ficaram, mas também um vazio no coração de tantos que até hoje ao recordar dos seus feitos marejam de lagrimas olhos e alma.
A segunda, matriarca e pioneira da Igreja Evangélica Assembléia de Deus, enfrentou as provações como bom soldado de Cristo e mesmo por muito tempo sobre uma cama, cantava hinos de louvores ao Senhor, não passava um dia sequer sem orar, foi ao encontro do Deus todo poderoso ao som dos hinos, deixando de legado uma geração de filhos na fé que levam a muitos cantos desse mundo o seu exemplo.
A outra deixou-nos na memória o sorriso e voz mais calma, a correção mais certa, o abraço mais apertado, o beijo mais sincero, o cuidar mais cuidadoso e a bênção sempre cobrada: “Dá benção tia Lindaura menina”, cobrava quando eu passava lá do outro lado da rua.
A quarta, legou-nos o cuidado, o amor pelos animais (o gatinho não resistiu ficar longe e se deprimiu) da cidade de Caculé era o melhor café, acompanhado sempre de boa companhia, ótimas histórias, sorrisos e lembranças que faziam ainda mais do dia de visita um dia esperado.
Hoje, dia 04 de dezembro de 2010 foi ao encontro das irmãs a “tia gorda”, do nosso lado a tristeza e a dor da perda, a saudade, as lembranças, as histórias contadas, os sorrisos tão facilmente de serem recordados, o desespero da única que está agora conosco, a sensação de não ter aproveitado para conhecê-las melhor, de ter passado pouco ou nenhum tempo com elas, a sensação de distância e saudade.
Do outro lado da estação, um abraço apertado de cinco irmãs, felizes, num reencontro eterno e numa certeza de missão cumprida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário