
O ETERNO RETORNO
“E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: “Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e seqüência – e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez – e tu com ela, poeirinha da poeira!“ Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasses assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderías: “Tu és um deus e nunca ouvi nada mais divino!” Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse: a pergunta diante de tudo e de cada coisa: “Quero isto ainda uma vez e inúmeras vezes?” pesaria como o mais pesado dos pesos sobre o teu agir! Ou, então, como terias de ficar de bem contigo e mesmo com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela?” (aforismo 56)
Responder a esse ser, de posse de uma afirmativa tão peculiar e eterna, requer que cada um esteja bem consigo mesmo e com a vida. "Quero isso inúmeras vezes, quero isso eternamente", não é uma resposta para aqueles que passam pela vida em dívida com ela. O que Nietzsche apresenta no pensamento do eterno retorno é uma seleção ética que alcança apenas aqueles que venceram acima de tudo os ressentimentos e depreciações com relação à vida e que possui, no intimo de seu ser, o que ele denominou de Amor Fati (amor ao destino) resumindo o desejo de que tudo seja exatamente igual, o que viveu é exatamente o que deveria viver.
Nesse sentido, as afirmações de Nietzsche é que: se uma árvore alcançou o tamanho que se tem atualmente é porque resistiu à todas as tempestades e, foram essas tempestades que propiciou o seu sucesso. Todas as transformações, dores, tristezas, "tempestades" tem em si as pequenezas e as grandezas que caracterizam a esfera humana. Isso é Amor Fati isso é amar o destino e reafirmar a vida.
Como diz Alfredo Naffah Neto: "Num mundo onde a vontade de potência se degrada em vontade de domínio e o poder criador em poder normalizador, homogeneizante; onde os valores vitais cedem o lugar principal a valores de sobrevivência, seja pelas condições materiais cada vez mais difíceis, seja pelo torpor comodista a que nos incita o mundo do consumo, é fundamental poder alçar a vista para horizontes menos estreitos, menos medíocres, menos conformados, perceber que existem outras maneiras de viver, não importando quão distantes elas possam estar na existência concreta de cada um. Pois cada gota desse néctar, conquistado a duras penas, pode valer uma eternidade".
Muito bom!!!
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